Revista Administrador Maio/2017 Ano 40 – n°371
COMPLIANCE – TRANSPARÊNCIA E ÉTICA
Nunca se falou tanto sobre corrupção e ações fraudulentas como ultimamente. Um tema sempre recorrente no Brasil e no mundo, mas que ganhou destaque devido às inúmeras denúncias no âmbito político e econômico brasileiro, gerando um debate muito amplo sobre o que é necessário para que empresas e profissionais consigam desempenhar suas atividades de forma transparente e responsável. Se por um lado as revelações de suborno, desvios de dinheiro público, caixa dois e demais formas ilícitas alarmaram a sociedade, por outro serviram para mostrar que é necessário maior engajamento e políticas efetivas dentro e fora das organizações. Mais do que isso, deixou clara a importância de se debater esse problema no seu aspecto mais amplo envolvendo, principalmente, a ética.
Dentro das organizações, muitos fatores podem contribuir para que desvios aconteçam e esse é um cenário que precisa ser trabalhado constantemente entre todos os colaboradores. No entanto, essa questão pode ser muito subjetiva na medida em que os profissionais possuem motivações e valores próprios, que devem ser identificados antes da sua contratação. ”É possível avaliar o perfil ético de um colaborador ou candidato analisando a resiliência da pessoa em meio às adversidades e provações às quais pode ser exposta ao se deparar com alguns dilemas.
Isso permitirá avaliar a rapidez com que ela se recupera de uma possível tentação em cometer uma fraude ou assédio, caso essa situação seja relevante para ela a ponto de tornar-se uma dúvida. Quanto mais rápida é a recuperação, mais resiliente a pessoa tende a manter sua integridade, porém, em casos de extrema rapidez, também pode haver indícios de indiferença ao tema. Uma vez identificado o grau de resiliência é possível um plano individual de desenvolvimento”, explica Reinaldo Almeida dos Santos, professor do MBA em Gestão de Riscos e Compliance da Trevisan Escola de Negócios.
Programas de Compliance
Muitas vezes deixados em segundo plano nas organizações, os programas de Compliance ganham destaque e têm sido difundidos até mesmo em pequenos negócios, como forma de eliminação dos riscos.
O Administrador Herbert Steinberg diz: “O compliance vai além de combinar e cumprir, e sim estar o tempo todo observando, garantindo e checando se aquilo que foi combinado está sendo feito”.
No entanto, o termo que de maneira geral significa agir em sintonia com as regras, precisa de um melhor entendimento na prática. “Com as questões da lava Jato, o termo compliance está sendo usado de forma mais coloquial, como se fosse à solução para tudo. Voltou-se a uma ação mais policialesca e menos construtiva da prática. Por exemplo: nós, enquanto administradores, montamos um plano estratégico, discutimos com os stakeholders, analisamos as pesquisas de mercado, contratamos consultorias internacionais e montamos um plano para os próximos três anos.
O compliance significa cumprir o que foi combinado, garantir que aquilo que foi decidido está sendo feito. Nos tempos da Lava a jato, se mistura um pouco o que é compliance com ética e código de conduta, mas ele não é só isso”, defende o Adm. Herbert Steinberg, consultor da MESA Corporate Governance.
Steinberg esclarece que a implantação deste tipo de programa precisa ser de fato, absorvido pela organização e seus colaboradores. “O fato das empreiteiras agora criarem um código de conduta ou deixarem um sistema de compliance visível não fez nenhuma mudança na essência. É quase um check-list, como se dissessem ”olha, agora eu tenho compliance”. Significa que agora, supostamente, as regras serão cumpridas, mas vale lembrar que estas normas já existiam. Então, a prática vai além de combinar e cumprir, mas sim estar o tempo todo observando, garantindo e checando se aquilo que foi combinado como uma regra é, realmente feito”, esclarece.
É necessário, porem, não generalizar e lembrar que muitas organizações já disseminavam as boas práticas do compliance muito antes dos escândalos de corrupção virem à tona. “Existem as empresas que já instalaram um programa anos atrás e hoje estão bem preparados, com colaboradores treinados nos temas mais relevantes para a empresa. Já em outro grupo, o processo ainda é embrionário. Nestes casos também existem desconhecimento e muitas vezes até aversão à mudança. Infelizmente muitos profissionais pensam que compliance vem complicar e é claro que no começo haverá transformações nos processos e controles internos, que poderão desagradar muitas pessoas. No entanto, cada mudança traz a necessidade de sair de caminhos usados e entrar em novos trajetos. Isso muitas vezes é difícil para pessoas, mas essencial para uma empresa adotar uma cultura efetiva de compliance”, defende Christian de Lamboy. Sócio-diretor do Instituto ARC, especializado em Auditoria, Gestão de Risco e Compliance.
“A sociedade global está se conscientizando sobre o consumo sustentável e ético, exigindo das organizações posturas e comportamentos que reflitam estes valores.”
Saldo positivo
Apesar das inúmeras consequências negativas, é possível ver que as mudanças trouxeram um novo olhar para compliance e para as práticas organizacionais, tornando as empresas mais responsáveis e preocupadas com as suas ações. Isto também se deve ao novo entendimento da sociedade e consequente cobrança sobre as práticas empresariais. ”O compliance é uma importante estratégia de competitividade e atratividade do negócio, pois a sociedade global vem, cada vez mais, conscientizando-se em relação ao consumo sustentável e ético, exigindo das organizações posturas e comportamentos que reflitam esses valores.
A existência de um programa de compliance, na medida em que torna mais segura e transparente a realização de negócios, aumenta a confiança e atratividade dos investidores e financiadores, reduzindo consideravelmente o custo do capital e aumentando o valor de mercado da empresa, com benefícios diretos para os sócios. Estudos compravam que o grau de satisfação das pessoas, de fidelização, comprometimento e rendimento do trabalho é maior dentro de empresas com forte cultura ética, melhorando o ambiente organizacional e retendo talentos. A difusão de boas práticas de governança corporativa amplia a coesão do público interno, gerando uma melhoria de produtividade continua”, defende Lamboy.
Por Katia Carmo